Bambolê
Era uma doce e linda menininha,
Sozinha e cheia de priminhas.
Ela era gordinha, chatinha e bobinha.
As priminhas, magrinhas e espertinhas.
O pai da menininha era doutor;
O das priminhas, operário.
A nininha solitária e doentinha,
Enquanto brincavam de roda-pião.
Um dia a menininha ganhou um bambolê,
Mas caiu de sarampo.
O pai mandou a menina ir pra cama
E ela olhava o bambolê jogado na grama.
Chegaram as priminhas, todas magrinhas,
Brincando com o bambolê. Ê, coisa gostosa!
E aí bamboleando e gritando:
- Ela não passa no bambolê! Xô, saramposa!
Menininha gordinha e solitária,
Filha de médico e de atriz aposentada.
Menininha doente, mas gritava:
- Deixa meu bambolê, suas danada.
Mãe cuidosa, tia rica, falava pra filha:
- Deixa elas, coitadas, são pobres,
Deixa brincarem com seu bambolê.
Um dia você sara e pode voltar a comer.
Mas, quê! A menininha solitária e rica,
Mal veio a noite e se foram as primas,
Foi-se a gritaria e caiu a pititica
Na febre, remediada com xarope e enzimas.
Dia seguinte, melhorzinha,
Olha pela janela, a menininha:
Bambolê na grama, convidando:
- Que você está tramando?
Corre, corre, menininha,
Vai buscar o seu brinquedo.
Sai do quarto, sai da linha,
Bamboleia e não tem medo.
Bambolê, bambolê,
agora eu brinco com você!
Vou pro quarto, mas te levo,
Tu é meu e se dane o resto.
Menininha levadinha,
Foi pro quarto e não deitou;
Subiu na cama rapidinha,
Bamboleou, bamboleou.
De repente sua mãezinha
Acudiu: - O sarampo, a saúde,
não saracoteia, deita já,
seu bambolê eu vou guardar!
Meninha piquitinha,
Deitou e dormiu.
Feliz.
Sarou.
Cresceu.
Casou.
Teve um casal de filhos.
Suas priminhas magrinhas
Também cresceram, casaram-se e tiveram filhos.
Não são mais tão magrinhas.
Já não passam pelo teste do bambolê...
Mas aquela menininha agora passa,
E neste Natal
Vai mandar de presente a cada priminha,
Embrulhadinho em papel-jornal,
Um bambolê para as filhinhas.